REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Ranes*

Author: Ângela Barreto Xavier

Affiliation: ICS-Universidade de Lisboa

https://doi.org/10.60469/qyba-qd12


Apesar de praticamente ausente dos dicionários portugueses, a partir do século XIX, a enunciação do vocábulo “Ranes” em Goa, e no contexto do império português, ficou associada à “rebeldia” e “resistência” dos Ranes de Satary (Roque 2001). Estes têm a sua origem em grupos guerreiros do Decão estabelecidos nos territórios vizinhos de Goa, os quais se reclamavam como sendo descendentes dos míticos guerreiros kṣatriya. Tendo prestado ajuda militar ao sultanato de Bijapur, esta família, que, com o tempo, se desdobrou em vários ramos, recebeu um conjunto assinalável de terras e aldeias de Sanquelim, das quais eram os dessais (equivalente a governadores). 

Até ao século XIX, os Ranes tiveram várias interacções com os poderes portugueses, desde o aforamento de aldeias em Bardez, a ajuda militar nas campanhas de conquista no Ceilão, até se tornarem, em meados do século XVIII, feudatários da coroa de Portugal, tornando-se as suas terras parte das chamadas “Novas Conquistas” de Goa. Todavia, desde 1740 em diante, a relação entre os Ranes e o poder imperial português foi marcada por uma grande tensão, sobretudo devido à crescente interferência da coroa portuguesa nos poderes e direitos dos Ranes, dando origem a um conjunto assinalável de sublevações, as quais se destacaram pelo recurso a tácticas de guerrilha, aí se destacando as de 1824, 1852, liderada por Dipaji Rane, o qual se tornou num ícone da resistência de Goa, e a de 1895-96 (Kamat 1999; Roque 2001; Ferreira 2021).

A resistência dos Ranes é encapsulada no Forte Nanuz, em Valpoi, e na canção popular Farar Far, em Konkani, a qual comemora a série de revoltas encabeçadas pelos Ranes contra os portugueses, sendo que o seu refrão “farar far zatai ranantu” se refere à troca de tiros, na floresta, entre Ranes e soldados portugueses (Kamat 1999). Mas já em 1843, os Annaes Maritimos referem a “pertinácia e continuas revoltas da família Ranes, dessais poderosos” (Dalgado 1919, vol. 2: 249).

* Palavra com origem num idioma não dominante dos impérios ibéricos.


REFERÊNCIAS

Dicionários
Dalgado, Sebastião Rodolfo, Glossário luso-asiático, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1919. 

Bibliografia
Ferreira, José Miguel Moura, As Novas Conquistas. Florestas, Agricultura e Colonialismo em Goa (1763-1912), Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, Dissertação de Doutoramento, 2021.

Kamat, Pratima, Farar Far. Local Resistance to Colonial Hegemony in Goa, 1510-1912, Pangim: Instituto Menezes de Bragança, 1999.

Roque, Ricardo, Antropologia e Império. Fonseca Cardoso e a expedição à Índia em 1895. Lisboa: ICS, 2001.