REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Insurgente/Insurgencia (ES) | Insurgente/Insurgência (PT)

Author: Ivone Brito Monteiro

Affiliation: Universidade de Cabo Verde

https://doi.org/10.60469/cxd0-hs98


O termo insurgente deriva do latim — insurgens. entis. insurgere — e, tanto em português — insurgente, insurgência —, como em espanhol — insurgente, insurgencia — significa contestar/levantar-se contra/opor-se/resistir a algo ou alguém de forma ativa. Raro em dicionários dos séculos XVI e XVII, no Vocabulário Portuguez e Latino de Rafael Bluteau, ocorre 14 vezes como sinónimo de rebelde – isto é, que se diz de “aquelle que se levantou contra o seu Príncipe legítimo” ou de “hüa provincia rebelde ou rebellada” (Bluteau 1728). No Nuevo Tesoro Lexicográfico de la Lengua Española, aparece 9 vezes, entre outros, como: “el levantado o sublevado; insurrección – levantamiento; sublevación o rebelión, de algún Pueblo, nación; insurrecionar; concitar a las gentes para que se amotinen contra as autoridades legítimas; sediciones”. Já nos dicionários contemporâneos alude a movimentos sociais; manifestações violentas, face uma situação considerada injusta ou opressiva. Portanto, trata-se de uma palavra que evoca a descrição de processos históricos que se opõem ou transgridem um poder hegemónico, vigente, envolvendo grupos dominados, explorados, menos favorecidos e/ou interessados em mudanças, sobretudo, a partir do século XVIII. Nos impérios ibéricos, de modo geral e no português, particularmente, a ideia de “restauração” (1640) e a centralização do poder (século XVIII) levaram os súditos, mormente os ultramarinos, a exasperarem-se na defesa dos seus direitos através de movimentos insurgentes e rebeliões. É disso exemplo, o processo descrito na carta que o Ouvidor-geral da capitania do Espírito Santo (Brasil), Bernardino Falcão de Gouveia, envia ao rei a explicar como a comunidade insurgente de Orobó optou pela sedição desde 1742, organizou-se numa vida autónoma alcançada através da luta coletiva e reivindicara para si uma identidade própria, opondo-se ativamente à tutela exercida pelos jesuítas, à posição atribuída aos índios na hierarquia colonial e aos aumentos de impostos, ou a Instrucción de Godoy “para la comisión encargada al marqués del Socorro de pacificar a los insurgentes de la isla de Santo Domingo, en 1791”.


REFERÊNCIAS

Dicionários
Bluteau, Rafael., Vocabulario portuguez & latino, áulico, anatómico, architectonico […], vol. 4, Lisboa, Pascoal Da Sylva, 1720, http://clp.dlc.ua.pt/DICIweb/LerFicha.asp?Edicao=1&Posicao=4228914;

Nuevo Tesoro Lexicografico de la Lengua Española. REA – Academia Usual, 1817. https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUIMenuNtlle?cmd=Lema&sec=1.0.0.0.0;

Fontes
“Carta do Ouvidor-Geral da Capitania do Espírito Santo, Bernardino Falcão de Gouveia, ao Rei, a informar que no sítio de Orobó se acham há mais de seis anos alguns índios separados da aldeia de Reritiba, que recebem ordens de um índio por nome de Manuel Lopes. 1750”, Arquivo Histórico Ultramarino, Espírito Santo, cx.03, doc.300.

“Instrucción de Godoy para la comisión encargada al Marqués del Socorro de pacificar a los insurgentes de la Isla de Santo Domingo, 1791”. ES.28079, Arquivo Historico Nacional/ESTADO, 883, Exp.16. https://pares.mcu.es/ParesBusquedas20/catalogo/docuSel?nm=&sel=12880090