REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Desgovierno/Desgobierno (ES) | Desgoverno (PT)

Author: Ivone Brito Monteiro

Affiliation: Universidade de Cabo Verde

https://doi.org/10.60469/ghqj-jh24


Por inerência e etimologia, o termo desgoverno (português), desgovierno/desgobierno (espanhol) deriva do vocábulo grego κυβερνάω/kubernao (governo), que se usava na Antiguidade para designar a ação de pilotar, dirigir ou ir ao leme de um navio. Assim, por metáfora antiga, chama-se governo a administração dos negócios públicos. Do latim tem-se, igualmente, as palavras gubernare/gubernatio/administrativo (governar/administrar), que aplicadas à administração da coisa pública traduzem a ideia de boa direção, ordem, norma na arte de governar. Já de desgoverno se diz de uma administração cujo gubernator (governador/dirigente/líder/gestor) descura da direção, executa mal a administração, age em desobediência à ordem, distancia-se do dever moral. Cria um mau governo. Em português ou em espanhol, o vocábulo é raro em dicionários dos séculos XVI-XVII; tem maior constância nos dos séculos XVIII e XIX. Por exemplo, no Vocabulario Portuguez e Latino de Rafael Bluteau (1712-1728) ocorre quatro vezes, com a acepção de “desgoverno. Mao governo”; enquanto no Diccionario Portuguez e Latino (1755), de Carlos Folqman aparece uma única vez com a definição de “(máo governo) da casa. Mala rei familiaris administratio, ónis”. Para a Real Academia Española, desgovierno/desgobierno significa falta de gobierno; falta de dirección; gobernar mal; mala administración; desorden; desconcierto; desorganización; desgobernadura. Assim que, no Diccionario de Autoridades (D-F), (1732:175), a palavra ocorre quatro vezes, com o significado de desorden; do latim ‘inordinato, incúria, seu mala administratio, dilapidatio’; “desgobernar, deshacer, perturbar y confundir el buen orden del gobierno”. A partir do Diccionario Salvá (G), (1846:380), onde surge uma única vez, o termo conserva o sentido de “deshacer, perturbar y confundir el buen orden del governo”; desórden, falta de gobierno, incúria, inordinata administratio”. Portanto, tanto em português como no espanhol a palavra desgoverno, desgovierno/desgobierno consiste numa gestão administrativa descurada, malconduzida ou mal realizada. Dir-se-ia, por exemplo, da situação descrita na carta de fray Filipe Pardo, arzobispo de Manila, de 26 de abril de 1683, onde se «(…) denuncia el desgobierno de las islas, la corrupción de los ministros y asimismo la rebeldía de los eclesiásticos»; ou da que o Governador de Cabo Verde, Bento Gomes Coelho, descreve na carta, datada de 1 de março de 1734, que envia ao rei [D. João V], «dando conta dos avisos que recebeu dos capitães-mores das ilhas de Barlavento, acerca (…) da desobediência dos feitores da Fazenda Real; (…) informando sobre o seu desgoverno político; dos vereadores eleitos não cumprirem a obrigação moral dos seus cargos na câmara (…)».


REFERÊNCIAS

Dicionários
Bluteau, Rafael, Vocabulario portuguez, e latino [...] D-E, v. 3, Lisbon, Officina Pascoal da Sylva, 1712.

Real Academia Española, Diccionario de la lengua castellana compuesto por la Real Academia Española, reducido a un tomo para su más fácil uso, Madrid, Joachín Ibarra, 1732.

Salvá, Vicente, Nuevo diccionario de la lengua castellana, que comprende la última edición íntegra, muy rectificada y mejorada del publicado por la Academia Española, y unas veinte y seis mil voces, acepciones, frases y locuciones, entre ellas muchas americanas [...],  París, Vicente Salvá, 1846.

Fontes
“Carta do governador de Cabo Verde, Bento Gomes Coelho, ao rei [D. João V]. (1734)”, AHU-Cabo Verde, cx. 15, doc. 43; 

Documentos sobre la expulsión del arzobispo fray Felipe Pardo”, CONSEJO DE INDIAS (1683).  ES.41091.AGI/24//FILIPINAS,90, N.1.