REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Denigrar (ES) | Denegrir (PT)

Author: Isa Maria Moreira Liz

Affiliation: PIUDHist-CIDEHUS-Universidade de Évora

https://doi.org/10.60469/qykj-j637


Denegrirar, degrenecer e denegrir aparecem nos dicionários espanhóis do século XVII com alguma distinção entre si. O primeiro faz referência à difamação, enquanto os últimos estão geralmente associados ao sentido literal de “fazer” negro (Franciosini, 1620:233), “borrar” (Academia Usual, 1791: 294), ou ainda, de “obscurecer, y poner como negra alguna cosa” (Academia Autoridades D-F, 1732:69). É apenas em 1732 que se faz menção à possibilidade metafórica do conceito: “vale tambien inanchar y deslucir el lustre, esplendor y bien nombre de alguna cosa” (Diccionario de Autoridades D-F, 1732:69), como já previa a expressão em latim. O Vocabulario de Bluteau, por sua vez, considera o conceito literal de denegrir por “fazer negro” (Bluteau, 1712, v.3: 58), e somente em 1789, no Diccionario de Moraes e Silva, se estende o seu significado para “manchar v.g., denegrir a reputação; denegrir o corpo com golpes” (Silva, 1789, v. 1: 375), assim como o faz também o Dicionário da Língua Brasileira no século XIX (1832:325). Não há registos deste uso nas Ordenações Manuelinas ou Filipinas, nos Regimentos do Tribunal do Santo Ofício português, e tampouco no Dicionário Jurídico de Portugal.

As fontes históricas as quais tivemos acesso, acompanham, geralmente, o sentido literal de tornar escura a cor de pele ou perder claridade do dia ou da luz (Diccionario Histórico de la Lengua Española, 1507-1849). Em fontes literárias por vezes encontra-se uma menção pejorativa de denegrir a imagem de uma pessoa (Céspedes y Meneses, 1623), ou mesmo em documentos jurídicos, pela denúncia de denegrir o crédito de homens ou mulheres (ANTT, Feitos Findos, 1819 e 1829).

Na historiografia, e sobretudo em estudos de outras áreas afins às Humanidades, este conceito passou certamente por uma resignificação nos últimos anos. Por vezes, há um vínculo negativo sobre o conceito de denegrir, principalmente pelo passado colonial e escravista dos territórios português e espanhol. Atualmente, o movimento negro já incentiva o uso do conceito como autoafirmação, no sentido literal de tornar negro ou pensar um debate no qual pessoas negras são de facto incluídas e lidas como agentes na sociedade.


REFERÊNCIAS

Dicionários

Bluteau, Rafael, Vocabulario portuguez, e latino [...] D-E, v. 3, Lisboa, Officina Pascoal da Sylva, 1712, https://www.bbm.usp.br/en/dicionarios/vocabulario-portuguez-latino-aulico-anatomico-architectonico

Franciosini Florentín, Lorenzo, Vocabolario espñol-italiano, ahora nuevamente sacada a luz [...], v. 2, Rome, Ivan Pablo Profilio, 1620. https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUILoginNtlle

Pinto, Luiz Maria da Silva, Diccionario da Lingua Brasileira [...], Ouro Preto, Typographia de Silva, 1823.

Real Academia Española, Diccionario de la lengua castellana compuesto por la Real Academia Española, reducido a un tomo para su más fácil uso, Madrid, Joachín Ibarra, 1732. https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUILoginNtlle

Real Academia Española, Diccionario de la lengua castellana compuesto por la Real Academia Española, reducido a un tomo para su más fácil uso, Madrid, Viuda de Joaquín Ibarra, 1791. https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUILoginNtlle

Silva, António Moraes e, Diccionario da Lingua Portugueza [...] A-K, v. 2, Lisbon, Officina de Simão Thaddeo Ferreira, 1789.

Sousa, Joaquim José Caetano Pereira e, Esboço de hum diccionario jurídico, theoretico, e practico remissivo ás leis compiladas, e extravagantes [...] A-E, v. 1, Lisbon, Typographia Rollandiana, 1825.

Fontes
“Autos crime de termo de bem viver em que é réu António Joaquim Primavera e autor Carlos Capellani”, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Correição Crime da Corte (1819).

“Autos crime de termo de bem viver em que é réu Jacinto Augusto de Miranda e autores Frederico António de Lima e Maria Clementina de Lima”, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Correição Crime da Corte (1829)

Céspedes y Meneses, Gonzalo de, Historias peregrinas y ejemplares, 1623, Madrid, Editorial Castalia, 1970. https://www.rae.es/obras-academicas/diccionarios/nuevo-diccionario-historico

Ordenações Filipinas, 1603, Livros I–III, Lisbon, Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.

Ordenações Manuelinas, 1521, Livros I–V, Lisbon, Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.

Bibliografia
Marcocci, Giuseppe, e Paiva, José Pedro, História da Inquisição Portuguesa (1536-1821), Lisboa: A Esfera dos Livros, 2013.

Noguera, Renato, “Denegrindo a educação: um ensaio filosófico para uma pedagogia da plurisiversidade”, Revista Sul-Americana de Filosofia da Educação 18 (2012), 62-73. https://periodicos.unb.br/index.php/resafe/article/view/4523