REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Aringa/Musitu (PT)

Author: Matheus Serva Pereira

Affiliation: ICS-Universidade de Lisboa

https://doi.org/10.60469/cvd0-wc87


A constituição de comunidades de escravizados fugidos, com organizações sociais próprias, foi uma das formas de resistência à escravidão generalizada nos mundos coloniais. Os contextos em que ocorreram requereram formas distintas de nomeação do fenômeno histórico.
Em Moçambique, as palavras musitu (pl. misitu) e aringa, com afinidades semânticas e não dicionarizadas, foram comumente empregues para designar comunidades fortificadas compostas, muitas vezes, por agrupamentos de escravizados foragidos. Ao longo do Seiscentos e Setecentos, na região dos Prazos da Coroa, no Vale do Zambeze, musitu foi o termo usado para denominar comunidades de escravizados fugidos que podiam ou não estar sobre a proteção de chefaturas africanas. Por um lado, Isaacman (1972: 41) alega que os misitu causaram uma séria ameaça à organização colonial na região. Por outro lado, Rodrigues (2013: 912-915), argumenta que os misitu foram uma prática comum de resistência africana, porém não fizeram parte integrante das insurreições ocorridas nos séculos XVII e XVIII.

Newitt (1973: 226-229) e Capela (2006) argumentam que, no século XIX, a palavra aringa – em detrimento de musitu – passou a ser comumente empregue para designar fortificações que se constituíram como reduto de acolhimento de escravizados foragidos. O principal motivo para a mudança adveio das invasões Nguni, e o crescimento e a complexificação social dos misitu.
No final do XIX e início do XX, os habitantes das aringas denominados como achicundas (escravizados com funções militares) estabeleceram uma oposição militar à expansão colonial portuguesa.
A historiografia estabelece aproximações entre musitu/aringa e os quilombos no Brasil.


REFERÊNCIAS

Capela, José (2006), “Como as aringas de Moçambique se transformaram em quilombo”, Tempo, 10 (20), 2006, 72-97.  

Isaacman, Allen. Mozambique. The Africanization of a European Institution. The Zambesi Prazos, 1750-1902, Madison, Milwaukee e London, The University of Wisconsin Press, 1972.

Newitt, Malyn, Portuguese Settlement on the Zambezi. Exploration, Land Tenure and Colonial Rule in East Africa, New York, Africana Publishing Company, 1973.

Rodrigues, Eugénia. Portugueses e Africanos nos Rios de Sena. Os Prazos da Coroa em Moçambique nos Séculos XVII e XVIII, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2013.