REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Amouco*

Author: Ângela Barreto Xavier

Affiliation: ICS-Universidade de Lisboa



Palavra possivelmente derivada do malaio-javanês āmoq/amuk que significa “homem possuído pela fúria”, ou do sânscrito amokya (Dalgado 1916: 47-48). 

Segundo Rafael Bluteau, amouco “val o mesmo que homem determinado e apostado que despresa a vida e não teme a morte” (Bluteau 1712, vol.1), definição alargada no Diccionario de Morais Silva, que acrescenta que os amoucos faziam certas cerimónias, como “raparem as barbas de huma ilharga, e untarem-se os mais deles com minhamudy, que he huma certa confeição de azeite cheiroso” (Silva 1789).

Mas a palavra já era conhecida no século XVI. Num dos diálogos do Soldado Prático de Diogo do Couto, o vice-rei pergunta o significado de amoucos, ao que o soldado responde no mesmo sentido mais tarde incorporado por Bluteau e Silva, acrescentando que era um termo de origem malaia, como já referira, aliás, João de Barros na sua Ásia, Década I: “os Amoucos de Malaca e da Jaua, os quaes são homens que com indignação de alguma vingança matão quantos achão ante si não temendo a morte, contanto que fiquem vingados” (Barros 1778, Dec. I, VII, 5).  Segundo Couto, isto acontecia quando, por exemplo, o seu rei era morto em guerra (Couto 1778, Déc. IV, VII, 1).
Nas fontes portuguesas, amouco serve para designar, então, grupos locais particularmente violentos e resistentes ao poder português. Da vulgarização de amouco, surgiu o substantivo amouquismo e o verbo amoucar.

* Palavra com origem num idioma não dominante dos impérios ibéricos.


REFERÊNCIAS

Dicionários

Bluteau, Rafael, Vocabulario portuguez e latino, áulico, anatómico, architectonico […],  Lisboa: Officina de Pascoal da Sylva, 8 vols, 2 supl., 1712-1728.

Dalgado, Sebastião Rodolfo, Contribuições para a Lexiologia Luso-Oriental, Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1916.

Silva, Antonio de Moraes, Diccionario da lingua portugueza composto pelo padre D. Rafael Bluteau, reformado, e accrescentado por Antonio de Moraes Silva natural do Rio de Janeiro. 1. ed. Lisboa, Simão Tadeu Ferreira, 1789, 2 vols.

Fontes
Barros, João de, Décadas da Ásia, Década I, Lisboa: Regia Officina Typographica, 1778

Couto, Diogo do, O Soldado Prático, Lisboa: Publicações Europa-América, 1988 

Couto, Diogo do, Décadas da Ásia, Década IV, Lisboa: Regia Officina Typographica, 1778