REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Alcahuete (ES) | Alcoviteira (PT)

Author: Mafalda Soares da Cunha | Sandra Cristina Montoya

Affiliation: CIDEHUS-Universidade de Évora | Pontifícia Universidad Católica de Chile



Em 1516, Nebrija define alcahuetería como lenocinium (Nebrija 1516). Por outro lado, o dicionário de Covarrubias define esta palavra como a relação amorosa/sexual ilícita entre um homem e uma mulher. Em 1726, esta palavra surge para identificar “la persona que solicita, ajusta, abriga o fomenta comunicación ilícita para usos lascivos entre hombres y mujeres, ó la permite en su casa (RAE 1726: 175, 2). Em 1837, o Diccionário de Autoridades define alcahuete como a pessoa que solicita ou induz uma mulher para fins lascivos com algum homem ou encobre ou permite em sua casa essa comunicação ilícita. Nos arquivos cubanos, é possível encontrar essa palavra para referir as relações sociais (ajuda/cumplicidade) e amorosas que alguns escravizados estabeleceram com os cimarrones, ajudando-os com bens de consumo e informações secretas sobre as cidades. “… los proveen en cambio de hachas, machetes, pólvora, piedras de chispa, coletas, listados, sal y otros artículos que estos negros [esclavos] alcahuetes por el mismo orden van insensiblemente transportando al lugar del depósito donde bajan los cimarrones a llevarlos a su guarida” (Belmonte 2007: 18). 
Diz-se que a etimologia de alcahuete era árabe e significava “atizador, inflamador” (RAE 1726: 175, 2). Em português, alcoviteira o alcovite é definido por Bluteau como “mulher que entrega mulheres e dá casa de alcouce”; na versão masculina como “torpe medianeiro e  ministro infame da luxuria alheia”. Morais Silva define-o como aquele que incentiva a prostituição de alguma mulher e favorece quem com ela peque carnalmente (Silva 1789), sentido que se mantem com Silva Pinto em 1832 (Pinto 1832).

A sexualidade livre e fora do casamento era uma prática condenada pelo direito canónico e civil em ambas as monarquias. Tal não obstava a que a intermediação e a facilitação de favores sexuais femininos fosse bastante comum nas sociedades europeias e coloniais. E era muitas vezes praticada por pessoas que também tinham outros comportamentos, à época considerados, desviantes como por exemplo a adivinhação e a feitiçaria. Eram práticas que configuravam formas de resistência às normativas canónica e civil, assim como à tratadística sobre o casamento.

A alcoviteira era uma personagem-tipo bastante comum nas comédias dos séculos XV, XVI e XVII de autores como Fernando de Rojas (La Celestina), Gil Vicente (Auto da Barca do Inferno), Jorge Ferreira de Vasconcelos (Ulissipo), ou Miguel de Cervantes (El Quijote). A recente explosão de estudos sobre história das mulheres e de género gerou uma importante historiografia sobre o complexo mundo da prostituição e das práticas marginais femininas.


REFERÊNCIAS

Dicionários
Bluteau, Rafael, Vocabulario portuguez e latino, áulico, anatómico, architectonico […],  Lisboa, Officina de Pascoal da Sylva, 8 vols, 2 supl., 1712-1728.

Covarrubias, Sebastián de, Tesoro de la lengua castellana o española, Madrid, Luis Sánchez, 1611.

Nebrija, Antonio de, Vocabulario de romance en latín hecho por el doctíssimo maestro Antonio de Nebrissa nuevamente corregido y augmentado más de diez mill vocablos de los que antes solía tener, Sevilla, Juan Varela de Salamanca, 1516.

Real Academia Española (RAE), Diccionario de la lengua castellana por la Real Academia Española. Octava edición, Madrid, Imprenta Nacional.1837.

Real Academia Española (RAE), Diccionario de la lengua castellana, en que se explica el verdadero sentido de las voces, su naturaleza y calidad, con las phrases o modos de hablar, los proverbios o refranes, y otras cosas convenientes al uso de la lengua [...], Compuesto por la Real Academia Española. Tomo primero. Que contiene las letras A.B, Madrid, Imprenta de Francisco Del Hierro, 1726.

Pinto, Luiz Maria Silva, Dicionário de língua Brasileira, Typographia de Silva, 1832.

Silva, António de Morais, Diccionario da lingua portugueza - recompilado dos vocabularios impressos ate agora, vol. 1, Lisboa, Typographia Lacerdina, 1789.

Bibliografia
Belmonte, José Luis, “Intentan sacudir el yugo de la servidumbre’. El cimarronaje en el oriente cubano, 1790-1815”, Historia Caribe, No. 12, 2007.