REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Renegado/Renegar (ES) | Renegado/Renegar/Arrenegar (PT)

Author: Fernanda Olival

Affiliation: CIDEHUS-Universidade de Évora

https://doi.org/10.60469/5mbb-1y43


Renegado é palavra que vem do latim renegare. Indicava para os poderes vigentes o que renunciara à sua religião em nome de outra, fosse essa conversão voluntária ou forçada. Com o mesmo sentido, também se usava por toda a Península Ibérica o vocábulo elche, de origem árabe, com testemunhos desde pelo menos a Crónica de Juan II de Castilla (1406-1411): “E yéndose por su camino para Alcalá, pasóse vn elche que fuera cristiano” (ed. Juan de Mata C. y Arroquia, Madrid, Real Academia de la Historia, 1982, p.347).

Com a investigação disponível, o verbo renegar já é detetável cerca de 1280 na General Estoria: Cuarta Parte, de Afonso X («El uino & las mugieres rebegar fazen a los omnes») e por volta de 1437-8, no Leal Conselheiro («Do fallar som fallicymentos: renegar, jurar, contra deos murmurar, desasperar, heresias afirmar ou enssinar» - cap. LXVII). Em Português, pelo menos a partir do século XV era também usual a forma verbal arrenegar, sempre com o mesmo sentido.
No período Moderno, os renegados apareciam com frequência no quadro do Mediterrâneo e até do Atlântico, no enfrentamento cristãos / muçulmanos, embora pudessem surgir noutras geografias e oposições religiosas. Não é por acaso que em 1720 Bluteau o define como «Aquelle, que se tem apartado da Fé de Christo, como há alguns em terras de Mouros». As viagens marítimas, a pesca, as saídas do espaço fortificado das praças ibéricas do Norte de África, as guerras contra muçulmanos e as investidas de corsários contra localidades eram contextos de captura recorrentes de cristãos, que podiam ser transportados para outras espaços culturais e religiosos. Era usual que cristãos feitos cativos por corsários e piratas norteafricanos e turcos se convertessem ao Islamismo, até para escapar aos trabalhos forçados a que eram muitas vezes sujeitos; recuperar a liberdade motivaria igualmente a apostasia de muçulmanos que se convertiam ao cristianismo, quando cativos, em solo português.

A partir de Julho de 1550, foi dado poder às autoridades eclesiásticas portuguesas do Norte de África para poderem absolver os renegados que ali acorressem, arrependidos da apostasia praticada. Mesmo assim, nos territórios das coroas ibéricas essas pessoas deviam passar por um tribunal inquisitorial, onde eram processadas de forma célere e onde copiosamente tinham que abjurar de leve e onde quase sempre recebiam instrução e penitências espirituais. A larga maioria dos processados por elches eram homens, com menos de 40 anos e das camadas populares e intermédias.

Ver também Reducido/Reducirse; Reduzido/Reduzir-se


REFERÊNCIAS

Fontes
Alfonso X el Sabio, General Estoria: Cuarta Parte, ed. por Isabel Fernández-Ordóñez, Raúl Calderón Orellana, 2 Vols., Madrid: Fundación José Antonio de Castro, 2009.

Crónica de Juan II de Castilla, ed. Juan de Mata C. y Arroquia, Madrid: Real Academia de la Historia, 1982.

Castro, Maria Helena Lopes de; Botelho, Afonso (eds.), Leal conselheiro, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1999. 

Dicionários
Bluteau, Rafael, Vocabulario portuguez, e latino, vol. VII, Lisboa: na Officina de Pascoal da Sylva, 1720.

Bibliografia
Barrio Gonzalo, Maximiliano, “Trasvase de religiones y culturas en el mundo mediterráneo del siglo XVIII: renegados y conversos”, Cuadernos Dieciochistas, , 2004: 13–49.

Bennassar, Bartolomé, “La Inquisición de Malta y los renegados (siglos XVI-XVII)”, in Circulación de personas e intercambios comerciales en el Mediterráneo y en el Atlántico (siglos XVI, XVII, XVIII), Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2008, pp. 79–94.

Braga, Isabel Drumond, Entre a cristandade e o Islão (séculos XV-XVII): cativos e renegados nas franjas de duas sociedades em confronto, Ceuta, Instituto de Estudios Ceutíes, 1998.

Braga, Isabel Drumond, «Nas franjas da sociedade: os renegados açorianos da Época Moderna», in O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV a XX: actas do colóquio..., Horta, Núcleo Cultural, 1998.

Outros materiais
CIPM - Corpus Informatizado de Textos Portugueses Medievais, CLUNL, 1993- (consultado em 2023/02/01)

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA: Banco de datos (CORDE). Corpus diacrónico del español. <http://www.rae.es> [consultado a 2023/02/10].