REBELLION AND RESISTANCE IN THE IBERIAN EMPIRES, 16TH-19TH CENTURIES.

Insubordinación (ES) | Insubordinação (PT)

Author: Arthur Curvelo

Affiliation: ICS-Universidade de Lisboa

https://doi.org/10.60469/1byr-zy04


Expressão que não se encontra nos dicionários da língua castelhana antes de 1837, e nos da língua portuguesa não antes do século XX, mas que significa, precisamente “falta de subordinación” (RAE, 1837: 790). O antónimo, “subordinación” ou “subordinação”, invoca “Sujeción al orden, mando, ù dominio de otro" (RAE, 1739, VI) ou, mais abstratamente, “ordem & disposição de várias cousas, umas debaixo das outras”, das quais deriva “uma certa dependência” (Bluteau, 1728, v.7: 762). Dentro da ordem militar, evoca “a subordinação das partes de um exército, por meio da qual os simples soldados obedecem aos oficiais inferiores, e estes aos tenentes, e capitães, etc. e todos ao General” (Bluteau, 1728, v.7: 762).

Em contexto de resistência, insubordinação, ou insubmissão, consistem no não reconhecimento de uma ordem ou hierarquia, representando a quebra numa relação de sujeição entre um comandante e seus subordinados. Num contexto militar, implica certa diversidade de situações que vão desde a fuga e deserção, até a recusa em travar combates ou efetivar ações militares. Na sua expressão mais extremada, a insubordinação pode redundar em motim. Uma carta de governador de Estremoz, D. Rodrigo de Castro, ao rei D. Afonso VI, em outubro de 1662, relata o “pouco respeito” de uma tropa de 900 soldados ingleses do seu comando que além de participar em duelos, com “grande insolência pedem comer, e camas novas aos patrões, [e] se lhe não dão boa roupa a queimam” e que ele, governador, encontrava dificuldade em “reduzi-los” à sua obediência por não ter um intérprete que transmitisse as ordens necessárias (Cartas dos Governadores... 1940, III: 263).  “Reduzir”, a seu turno, é palavra que se usa como sinónimo de “subordinar”, em diferentes partes do mundo ibérico. Fala-se, por exemplo, de “reduzir” ou “reducir a la fé” no contexto da ação missionária. Nas Américas, “redución” ou “redução” se aplica aos espaços em que se congregavam os indígenas para a doutrinação católica. Para os missionários jesuítas, “reducir” era também sinónimo de “domesticar” e “amansar”, o que pressupõe não apenas uma correlação explícita com o adestramento de animais, e, portanto, a inferiorização daqueles que são reduzidos, mas a estigmatização da sua condição de indómitos, portanto, insubordinados.


REFERÊNCIAS

Dicionários
BLUTEAU, Rafael, Vocabulario portuguez, e latino, aulico, anatomico, architectonico, bellico, botanico ...: autorizado com exemplos dos melhores escritores portuguezes , e latinos; e offerecido a El Rey de Portugal D. Joaõ V,  Coimbra, Collegio das Artes da Companhia de Jesu: Lisboa, Officina de Pascoal da Sylva, 1712-1728. 8 v; 2 Suplementos.

Real Academia Española, Diccionario de la lengua castellana, en que se explica el verdadero sentido de las voces, su naturaleza y calidad, con las phrases o modos de hablar, los proverbios o refranes, y otras cosas convenientes al uso de la lengua [...]. Compuesto por la Real Academia Española, Tomo quinto. Que contiene las letras S.T.V.X.Y.Z. Madrid, Imprenta de la Real Academia Española, por los herederos de Francisco del Hierro, 1739. https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUILoginNtlle

Real Academia Española. Diccionario de la lengua castellana por la Real Academia Española. Octava edición, Madrid, Imprenta Nacional, 1837. https://apps.rae.es/ntlle/SrvltGUILoginNtlle

Fontes
Cartas dos Governadores da Província do Alentejo a el rei D, Afonso VI, vol. III, publ. e pref. P. M. Laranjo Coelho, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1940. p.263.